terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Nova Temporada das Flores

"...preparando o campo e a alma pras flores... "


Fim de ano, início de ano é sempre o mesmo ritual: é a loucura das provas finais, é o alívio das férias, é a frustração por ver o ano acabando na dúvida de que talvez você não vá atingir todos os seus objetivos e se tornar exatamente a pessoa que você gostaria de ter se tornado; e sempre tem aquele poderoso sentimento de esperança que chega com os ares do novo ano e nos enche de sonhos e expectativas.

É incrível o poder que o ano novo tem. Logicamente falando, é só um dia depois do outro com uma noite no meio. Mas, lá no fundo, parece que tem um paviozinho que acende e vai tomando conta do corpo, do ambiente, até encher todo o universo de esperança, de sonhos e de fantasias de que o ano que vai nascer será incrível.  

Parece que depositamos, ainda que involuntariamente, todas as nossas frustrações no ano que passou e nos predispomos a ser diferentes, e a fazer tudo diferente, ou algumas coisas diferentes para que tudo seja perfeito.

É mágico o poder do recomeçar e do renascer que o Ano Novo tem.

Se formos fazer a retrospectiva do meu 2011, ele não foi dos piores.

Me formei em Letras logo no início do ano, um curso que me ensinou muito e me tornou uma pessoa mais crítica em relação a vida e mais segura com relação as pessoas. Tecnicamente não engoli um dicionário como me disseram pra fazer um dia, caso eu quisesse continuar com meu sonho tosco de escrever. Mas me tornei amante e eterna companheira das palavras, redescobri um talento guardado e retirei o véu do medo e da insegurança. Sinto um certo orgulho quando as pessoas me chamam de intelectual ou enviam seus textos para que eu dê minha opinião. De certo modo sinto que elas confiam em mim. Um dos dias mais incríveis do meu 2011 foi quando fui devolver alguns livros na biblioteca da faculdade e a bibliotecária chegando meu nome no sistema disse: “Marina Mundim?! É você que tem um blogue legal?!” Fiquei tão abobalhada e tão feliz que nem soube o que responder. Só disse: “eu tenho um blogue,mas não sei se ele é legal.” E ela disse: “ é você sim, adoro seu blogue!” Essas palavras me fizeram perceber que a minha escolha tinha valido a pena e que eu estava no caminho certo.

Depois de formada, resolvi começar a estudar Direito. Um curso que decidi entrar de cabeça. Não foi uma frustração com o curso anterior, como muitos pensam, e nem é mais uma tentativa de “saber o que eu quero da vida!” Foi um curso decidido por vontade e por vocação. Eu amo o que eu faço e acho que quando eu terminar este “cursinho pra concurso” vou ser uma excelente advogada. Ingressando neste novo curso, conheci pessoas incríveis e fiz alguns amigos de infância. Pessoas que se mostraram indispensáveis em muito pouco tempo de convivência e que conquistaram, sem muito esforço, o meu carinho, a minha admiração e a minha amizade.

Por falar em amigos. Fico muito feliz de ter os meus velhos amigos de guerra, entra ano, sai ano, sempre aqui comigo. Quem tem amigos de verdade nesta vida, sabe que não há distância, desavença e tempo que consiga destruir sentimentos. Ainda que esta distância não seja palpável, nem mensurável; ainda que ela seja além da vida.

No meio de coisas novas e de conquistas, meu 2011 também veio carregado de perdas. Perdi um dos meu melhores amigos em um trágico acidente e  perdi um tio pelo qual tinha enorme admiração e carinho.
Em 2011, também tive que aprender a conviver com a perda da sanidade, e com limitações que eu jamais pensei que pudesse ter.  Tive que aprender a andar na corda bamba, de quada-chuva fechado, rezando pra não cair. Tive que reaprender a ter fé e tive que reaprender a acreditar.

Minha vida se tornou um inverno sem flores e eu tive que reaprender a semear. Tive que reaprender a escolher o que plantar e tive que reaprender a esperar a hora certa de colher. Tive que aprender a me dominar, tive que amadurecer. Tive que aprender a enfrentar cada dor, cada medo, cada pânico com a firmeza de um adulto e não com as lágrimas de uma criança. Tive que lembrar a mim mesma que as sombras na parede são só sombras; e que o barulho ensurdecedor da sirene  passando na avenida escura, não significava que eu estava perdendo alguém que eu amo. (Como eu disse eu tive que aprender a lidar com limitações que eu jamais pensei que eu pudesse ter, mas isso é tema para futuras publicações)

Em 2011, eu me rendi ao velho amor de sempre. Amei e fui amada. Fui feliz e triste e feliz e triste até que pus, definitivamente, um fim a esta palhaçada.

Conheci três homens perfeitos. Talvez um mais perfeito que os outros, mas todos perfeitos. Me apaixonei por todos eles [risos], me despi de corpo e alma e tive a certeza de que seria feliz. E fui muito feliz. Realização de sonhos, materialização de fantasias, não importa. Por um dia, um mês ou uma noite. Era eu ali, cálida, em meio a sussurros, resplendor e sorrisos.

Fechando 2011, a minha vida caiu nos eixos. Em outubro, arrumei dois empregos maravilhosos, e acabei me rendendo ao que me proporcionava melhores condições e melhor salário. Depois de ficar com medo de bombar por falta nas aulas de “Cultura e Sociedade” passei em tudo com média superior a 80% . Não estou saindo com ninguém “importante”, mas estou aproveitando bastante a minha carreira solo, e tenho gostado muito das minhas escolhas para participações especiais. De fato, depois de outubro a minha vida caiu nos eixos, não sei se havia previsões astrológicas para isto, mas, sinto como se tivesse encontrado o meu caminho de volta.

Embora, se for analisar os detalhes, 2011 não tenha sido um ano ruim. Eu, sinceramente, o detestei. E estou cheia daquela mágica esperança que me dá o ano novo. Podem pensar: “que egoísta.” Com um ano tão maravilhoso ela está aí reclamado. Mas é como se eu sentisse que dei voltas em torno de mim mesma, que não saí do lugar; é como se eu tivesse “passado um tempo andando no escuro, procurando achar as respostas, e eu era a causa e a saída de tudo”. Mas, de uma forma inexplicável, ou devido a uma força resgatada lá fundo, sinto que agora “eu cavei como um túnel o meu caminho de volta” e estou pronta pro ano que vai começar e para tudo que vier com ele, e vou entrar de cabeça erguida, de mãos postas, de olhos abertos, de ouvido atento e  vestindo (sempre) o meu melhor sorriso.

É como naquela postagem “de volta para a terra do Sol” só que desta vez com mais força e com mais certeza de que tudo vai ser diferente. Afinal, 2012 vai ser o melhor ano da minha vida!!

pra combiar com a inspiração ...


sábado, 17 de dezembro de 2011

Sem inspiração pra escrever ...

 
Eu matava quem inventou esta coisa de inspiração pra escrever. Nada a ver vir coisas a sua cabeça, e frases prontas e textos inteiros sobre coisas que não te interessam mais, só porque é isso que te inspira. Queria escrever sobre política e a crise mundial. Talvez algo sobre esporte e religião. Mas aí eu teria que ter conhecimento, estudar um pouco mais e adquirir fundamentação teórica. Falar sobre aquilo que se sabe é bem mais fácil, é bem mais tranquilo e geralmente fica bem mais coerente. 

Vinícius escolheu o amor, Fernando escolheu o amor, Caio escolheu o amor e Clarice escolheu o amor. Muitos deles contaram vitórias e a compatibilidade dos sentimentos, mas estes textos ou poemas nunca fizeram ou inspiraram histórias e muito menos consolaram pessoas. O que sempre ganhou as páginas dos livros, os suspiros dos apaixonados e o entendimento da maioria dos corações, foram os versos trágicos do amor não correspondido e do sofrimento diante do mundo. O sofrimento, a solidão, a carência e a desilusão diante das coisas, das pessoas e  do mundo, são inspiradoras. Momentos de alegria e contentamento, geralmente são coisas que não dá pra  por no papel; não da pra materializar nas palavras: é transcendente demais. É abstrato demais. 

Me dá vontade de escrever com frequência, e as vezes pode ser que me julguem melancólica e mal amada. É o que penso quando leio meus autores preferidos. Sempre os vejo como pessoas caóticas que não entenderam o funcionamento do mundo; que amaram demais e não foram compreendidos. (Aqui, eu não vou falar de correspondência - porque muitas vezes se ama e é correspondido, mas ainda assim não se é compreendido. - Pra compreender o amor de um poeta, só sendo outro. Ou um louco e insensato). Os poetas sempre esperaram mais do mundo e das pessoas, e estes nunca atenderam suas expectativas. 

Não sou melancólica, muito menos mal amada [risos]. Confio no meu taco; "já amei e fui amada, já fui amada e não amei, e também já amei e não fui 'compreendida' =/ ". Só que falar de noites de festa e de ‘pegação’ não é tão inspirador quanto aquela história de quando você se matou por alguém e fez tudo que podia pra poder dar certo. Já publiquei aqui no blogue fatos reais da minha vida e detalhes do meu relacionamento frustrado. Já escrevi sobre o meu medo do fracasso e não ser ninguém na vida, (já escrevi e não publiquei, sobre a minha psicose e a minha necessidade de um analista). Mas agora minha vida está tão nos eixos que eu não tenho mais inspiração pra escrever. Fiz dos meus textos uma mistura da "Tabacaria", da "Hora da Estrela", do " Soneto da separação"... e me recusei a  encontrar o caminho pra "Pasárgada". 

Com vontade de escrever, e totalmente perdida. Alguém tem alguma dica, ou sugestão pras próximas publicações?!
- considerarei todas e ficarei muito agradecida.


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Preferências

 

dia 14 de Janeiro de 2012 em Patos de Minas *-*
 
Lembra quando eu disse que amava pessoas que sabiam conversar, e discutir, eloquentemente, qualquer assusto?! Quando eu disse que o que me encantava era a inteligência e a sagacidade do ser humano?! Pois é, a cada dia que passa tenho mais certeza sobre as minhas preferências. 

Na vida, a gente cresce e estabelece prioridades. A gente muda de rumo, a gente muda de companhia, a gente evolui... e passa a exigir do mundo a mesma evolução. Nunca deixei de conversar com uma criança por causa da sua "imaturidade", nem exigi a idade certa na hora de sair com alguém. O que sempre valeu pra mim, foi a idade psicológica que cada um tinha e a capacidade de saber lidar com ela. Conversar com uma criança pode ser a experiência mais incrível que se pode ter; conversar com alguém na terceira idade, mas, que conserve a alma de adolescente é encantador. No entanto,  nada me decepciona mais que a ignorância disfarçada. 

É ridículo, tentar conversar com alguém que não tem fundamentos e que mesmo assim, se julga superior e tenta te humilhar. É grotesco, pessoas que tentam rebaixar as outras ao seu nível para que possam tentar dialogar. 

Inimizade declarada: conheci um "carinha" dias atrás (o mesmo das cantadas da postagem anterior) que me disse que eu não seria bem vinda a festa que ele estava organizando porque eu era chata e intelectual, e que ele não gostava deste tipo de pessoa. Eu sei que o real motivo do desgosto é porque eu estou saindo com o amigo dele, mas a vontade que me deu foi de dizer: claro que não! deve gostar de gente estúpida e ignorante como você. Mas seguindo a dica de alguém, preferi não discutir com o idiota, pois eu me rebaixaria ao nível dele e é provável que ele me venceria pela experiência.

Não estou aqui dizendo que quero me casar com um economista, com um historiador, com um advogado, ou com um administrador de empresas, nem que estou fechada apenas para discuções intelectuais. Deus me livre disso! O cara que eu mais amei na minha vida, me fazia rir de trinta em trinta segundos e contava as melhores e as piores piadas do mundo. Ninguém quer uma pessoa rotulada, e ninguém quer ser rotulado, também. Eu não quero ser a namorada do fortão, ou a amiga da bobinha e da boazinha, e da galinha, e da inha, e da inha. Ninguém vive de apenas um esteriótipo: todo CDF tem seu lado de fundão, toda bobinha tem seu lado esperto, toda "galinha" tem seu lado romantico; todo pegador tem seu lado carente e todo carente tem seu lado durão. 





O que tem pra hoje: Seja uma pessoa aberta e receptiva, sempre! Conheça todo tipo de pessoa, e tenha um pouquinho de cada uma delas dentro de você. Seja você mesmo! E seja lá quem for, seja muito FELIZ!

- Marina

domingo, 6 de novembro de 2011


"Uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viver as superfícies, enquanto eu era capaz de ir ao mais fundo, você riu porque eu dizia que não era cantando desvairadamente até ficar rouca que você ia conseguir saber alguma coisa a respeito de si própria, mas sabe, você tinha razão em rir daquele jeito porque eu também não tinha me dado conta de que enquanto ia dizendo aquelas coisas eu também cantava desvairadamente até ficar rouco, o que eu quero dizer é que nós dois cantamos desvairadamente até agora sem nos darmos contas, é por isso que estou tão rouco assim, não, não é dessa coisa de garganta que falo, é de uma outra de dentro, entende? Por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço....

[...]


Não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo, disponível só, não é uma palavra bonita? Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender."

Para uma avenca partindo - Caio F. Abreu

Um dia desses, eu brinquei, sentada em uma mesa bar, que eu me parecia muito com os poetas antigos. Não na grandeza no labor com as palavras, mas nas dimensões do amor que eles sentiam. É sério, há textos que são extremamente catárticos pra mim, e  as vezes eu sinto que foram escritos para que eu lesse; ou que foram escritos em situações exatamente idênticas as que eu vivo. Mas, ainda que estranho nesse contexto atual de modernidade superficial, eu gosto desta história de amar demais. Dessa história de amar profundo. Não gosto de amar na superfície, de colocar só o pé na lama. Se é pra me lambuzar, eu me lambuzo por inteiro. E me alegro por inteiro ou morro de tristeza por inteiro. Não gosto de nada que seja pela metade: beijo pela metade, abraço pela metade, sorriso pela metade. Faz assim?! Se for pra sorrir, mostre os dentes. Se for pra abraçar, abraçe apertado. Se for pra beijar, beije demoramente. Gosto muito de um trecho da música da Vanessa da Mata que diz: "quero beijos intermináveis até que os meus olhos mudem de cor".. eu acho que é por aí. É extremo!! O complicado de se viver assim é que sempre se está a beira do risco. Você pode ter a sorte de também ser amada demais e aí sentir que tudo vai dar certo, ou então você pode amar demais, querer demais, sonhar demais, e nunca encontrar alguém que esteja disposto a ser tão demais, quanto você gostaria que fosse. O complicado de se viver assim, é sempre ter menos do que aquilo que se procura, e acabar tendo que se contetar com aquilo que vier.

- Marina
Adoro Caio Fernando Abreu !! =)


segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Interrogação


Uma vez, conheci um rapaz que trocava de chapéu toda vez que trocava de namorada.
Um dia, ele chegou com um chapéu novo para me apanhar depois do colégio. Neste instante, percebi que o nosso relacionamento estava chegando ao fim. Depois deste dia duramos nada mais que alguns abraços e poucos beijos.
Como ele sempre passa no meu caminho,  não pude deixar de notar que ele já trocou de chapéu três vezes. Já foi branco, já foi cinza e agora é preto. Me pergunto se a qualidade dos relacionamentos tem piorado gradativamente.


Encontrei este fragmento enquanto estava lendo meu caderninho de rascunhos. Achei muito engraçado quando reli [risos]. Pude perceber o quanto as mulheres podem ser divertidas quando estão com raiva, ou com ciúmes [risos]. Não pude deixar de postá-lo.

De volta à terra do Sol

            Demorei um pouco para me deslocar da minha comodidade e ir a uma das peças do Festival de Teatro, acho que porque eu sabia que o tapa que eu ia levar na cara ia ser imenso.
            Cheguei cansada de viagem na quinta-feira e não tive ânimo. Na sexta quis ir ao cinema com um amigo do tempo de colégio, e quando fui trocar os alimentos não perecíveis pelos ingressos das peças que queria assistir, muitos deles já haviam acabado. Por sorte consegui ir a uma peça, Deus e o Diabo na terra do Sol, de uma universidade cujos grupos de teatro sempre me encantam. Dessa vez não seria diferente...
            Porém, creio que o efeito devastador teria sido o mesmo, o bofetão teria sido tão forte e tão dolorido como foi,  independente do espetáculo. Como disse, acho que adiei tanto porque sabia exatamente como iria ser.
            Quando entrei no teatro, abriram-se as cortinas e a peça começou, eu estava diante de tudo aquilo que eu fui e não era mais. De todos os meus sonhos, de todas as minhas vontades, de todos os meus gostos e de tudo aquilo que eu amo. Não só o palco e o teatro, mas tudo mesmo, que venho abrindo mão ao longo dos anos. Estava diante de mim, lá atrás, crente e feliz!
            A questão não foi só relembrar o tempo em que a cena também era minha, os gestos eram meus, as caras e bocas faziam parte do jogo e os aplausos também eram pra mim. A questão foi lembrar como tenho deixado que as coisas aconteçam, como tenho permitido a vida passar, como tenho mentido pra mim mesma, como tenho colocado obstáculos pra tudo, como tenho deixado de viver e apenas existido. Existido na esperança de que algo aconteça, de que o roteiro, de alguma forma, talvez seja mudado.
            A questão foi perceber como não tenho me aceitado exatamente como eu sou, e de como tenho me agarrado às perdas e às frustrações da vida e de como tenho deixado as vitórias de lado, como se fossem obrigações, conseqüências e não algo realmente relevante.
            A questão foi redescobrir, ou “reperceber” que eu ainda tenho todos os sonhos do mundo; e que está na hora de virar a página. Mas, não a página dos velhos amores, dos velhos amigos ou das velhas profissões, não é isso! Está na hora de virar a página de mim mesma, de me recriar, de me “redirigir”.

            Reentrar em um lugar onde fui tão feliz, me fez perceber o quanto tenho sido tola. Ver meu sorriso lindo no espelho quando cheguei em casa, fez com que eu me amasse de novo.
            Não tenho gostado do que venho me tornando. Desde o início deste ano acho que tenho querido inverter a ordem das coisas e tenho metido os pés pelas mãos: deixei de confiar nas pessoas e deixei de confiar em mim; ignorei quem eu sempre fui, virei as costas para minhas qualidades e quis exigir do mundo aquilo que nem eu estava me oferecendo: oportunidades.
            Me fechei nas minhas imperfeições e construí o meu mundo: “fechado para visitações”. Mandei quem estava nele ir embora e não permiti que mais ninguém se aproximasse. Passei a me sentir autossuficiente e péssima companhia. Paradoxal. O mundo era meu, mas não me pertencia; caminhava sobre ele feito alguém que anda porque tem pés e pernas, mas, não sabe para onde vai. Mirava algo a anos luz que me traria “a” felicidade, mas ignorava o meu momento feliz. Deixei de curtir o meu momento para fazer outras pessoas felizes, deixei de fazer as minhas escolhas para viver o que escolhiam pra mim, deixei de acreditar que daria certo porque outras pessoas diziam que não daria.
Olhando para trás, acho que há quatro anos não me preocupo mais com o que eu quero e acabo me contentando com o que os outros, ou com o que o “destino” quer pra mim.

            Quando saí na sexta com meu amigo de colégio, depois de muita conversa, ele me disse que eu era a errada da história, embora eu tivesse dificuldades para enxergar e admitir isto.
            Então, eu admito. Estou errada. E tenho errado há anos. Tenho sido ignorante diante de como a vida realmente funciona: não estou no centro do palco e nem vou ser aplaudida sempre; vou esquecer as minhas falas de vez em quando , e vou “quebrar a pena” algumas vezes, mas o que realmente importa é que eu sempre vou ser a melhor atriz, da melhor forma que eu puder ser, da minha peça. Porque o espetáculo é só meu! Pertence apenas a mim. E me apetece fazer o roteiro e saber lidar com os improvisos.
            Está na hora de me aprofundar nos orifícios da minha consciência e de redefinir o meu mundo. Que venha a vida real, com todos os meus medos e apreensões...

            Virei a página e comecei a me reescrever. Espero que agora eu use as cores certas e dê o tom quem de fato deva dar, para que eu volte a me amar, como estou me amando neste momento e como, durante tanto tempo, me amei. 

pra combinar:

sábado, 15 de outubro de 2011

Viagenzinha de início de semana


No início dessa semana, resolvi acompanhar minha mãe em uma viagem ao interior de São Paulo, para visitar meu irmão. Como toda viagem, esta também aconteceu coisinhas intrigantes que vou compartilhar com vocês...

Fazia dias que não chovia por aqui. Saímos logo depois do almoço no domingo e o sol estava de matar, pegamos uma estrada nova que vai para Uberaba e minutos depois o clima começou a mudar. Eu achei muito engraçado porque me veio a cabeça uma lembrança inusitada e eu passei a me sentir parte de uma pintura do Van Gogh [risos]. A estrada estava deserta, a paisagem era composta por capim seco de ambos os lados e o céu estava "preto" de chuva, me senti literalmente dentro do quadro Campo de Trigo (sem corvos) do Van Gogh. Viajei dentro desse quadro por quase uma hora, até que o céu veio a baixo e borrou toda a pintura com a sua chuva torrencial. 

 Chegamos em São Carlos já era noite e eu estava exausta. Meu irmão é estudante universitário e mora em um quartinho de mais ou menos 20 m² muitos sedutores e eu me atirei em um cochãozinho por ali mesmo e "capotei". A noite foi tranquila e com muita chuva. Aproveitei que estava a quilômetros de distância de todos os meus problemas, sem net e sem ninguém conseguir me achar no celular (porque eu estava sem créditos e não dava pra cobrar deslocamento, hehe ), para hibernar e dormi por horas e horas... Minha mãe resolveu me tirar da cama, assim que a chuva parou, para irmos dar uma voltinha pela cidade. São Carlos é uma cidade muito engraçada, ela é dividida, creio que não intencionalmente, em setores. Se você está na seção loja de roupa, você não vai encontrar farmácias, se você estiver na seção farmácia, você não vai encontrar lojas de calçados, e se você quiser ir a um banco, todos, de todas as agências, estarão na mesma rua. "Batemos pernas" a tarde inteira e fizemos algumas compras - detalhe, Patos de Minas é uma cidade onde compramos coisas a preço de ouro, vá a São Carlos de malas vazias e faça a festa!

Na hora de voltarmos pra casa, meu irmão, sugeriu que passássemos por dentro da Universidade para conhecermos o Campus, ele estava empolgado e queria mostrar cada detalhe. A USP de São Calos é linda - enorme, mas linda - e foi realmente muuito divertido conhecer TODOS os detalhes. Já ouvi dizer que Patos é a cidade das mulheres bonitas, se existe este conceito, definitivamente São Carlos - pelo menos nas imediações universitárias - é a cidade dos homens lindos. Quase desfiz minhas malas e fiquei por ali mesmo. Estatisticamente falando, enquanto aqui há dois homens bonitos para cada dez, lá há sete lindos e três "pegáveis" para cada dez [risos]. Como carne nova no pedaço é sempre carne nova no pedaço, estava me sentindo a última coca-cola do paraíso! [mais risos] 

 De volta ao quartinho do meu irmão hibernei novamente por horas e horas até o dia seguinte. No qual hibernei por mais horas e horas. Estou com serias dificuldades para dormir aqui em casa e acho que queria tirar o atraso, não podia ver um cantinho um pouco chamativo que me acomodava e em minutos estava "roncando" . Só saí de casa na terça-feira, porque choveu o dia todo, para ir até a padaria da esquina tomar um café (bem forte) pra criar vergonha na cara e ficar acordada.
 No dia seguinte era dia das crianças e fomos pro parque da cidade, caminhar debaixo do sol e ver os bichinhos do Zoológico. Achei um máximo! O urso sabia que era estrela e ficava fazendo pose pra platéia, os macacos eram hiperativos, a onça pintada era linda, e eu vi em tempo real o nascimento de uma Ema.  Mas a parte mais legal, foi o cantinho da Patagônia, onde tinha vários animais que eu nunca tinha visto "pessoalmente". Os pinguis estavam com calor ( eu tenho certeza), as Alpacas estavam com vergonha e não apareceram, já as Lhamas estavam sem vergonha e aproveitaram para dar uma demonstração de sexo selvagem [ muitos, muitos risos] !! As gaivotas estavam estressadas e os Guanacos estavam na deles, acho que pelo fato de que ninguém conseguiu compreender a real diferença entre um Guanaco e uma Lhama. 

Fim do dia divertido começou a choradeira da minha mãe, inconsolada de deixar o filho pra trás. Pegamos o ônibus para Ribeirão Preto as oito da noite. Antes de embarcar, lá na rodoviária mesmo, já havia notado a presença uma menina muito escandalosa a uns dois metros da gente, quando a criatura entrou no ônibus, o mesmo que o meu, pude perceber que ela estava completamente drogada - ela não parava de rir nenhum minuto,  conversava, muito alto,  com sua amiga de poltrona e eu tive que ouvir ela contar umas três vezes a piada do pintinho maconheiro que não estava " tintindo nada " . 

 Daqui pra frente não aconteceu nada de mais na minha viagem. Chegamos em Ribeirão as 21:30 mais ou menos, e ficamos esperando o ônibus até as 00:40. Na rodoviária não tinha nada de divertido pra fazer e eu fui ensinar minha mãe a jogar Sudoku no celular [foi hilário]. Chegamos a Patolândia umas nove horas da manhã, e adivinhem, não consegui mais dormir direito...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Encargo

foto: http://saltonanoite.blogspot.com/

"Pois assim penso: que cada um tem uma missão na vida, que cada um nasceu para uma coisa diferente, um encargo que um dia ele saberá qual é. Uns para amar, outros para serem amados, outros para viver apenas e cumprir o que a natureza nos pede, outros para nos fazer sofrer, e outros ainda não para viver, mas para dedicar a alguns a sua vida, mesmo que esta não tenha valor algum, mesmo que se seja para carregar uma lamparina somente, mas que seja com tão imenso amor, que ela se torne o Sol a todas as montanhas. " 

A Lanterna Mágica de Jereminas - Luís André Nepomuceno

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Diferente de Steve Jobs, eu sempre fiz as escolhas erradas..

a UFRJ me quer !!! 

Hoje quando entrei no e-mail havia cinco, 5 , e-mails da UFRJ que dizia: 

"No próximo dia 11/10/2011 ( terça- feira), às 18:30, na sala 407, será realizada prova de monitoria para a disciplina Direito do Trabalho. Os interessados deverão comparecer na referida data para a realização da prova, não sendo necessária prévia inscrição. "

# Se a UFRJ não parar de me mandar e-mails com propostas de uma "vida melhor", eu vou pular da ponte do Rio Paranaíba! ..

- Como hoje a primeira coisa que fiz na hora que entrei na net foi assistir ao discurso do Steve Jobs para os recem formados em Stanford, ainda estou com a esperança de que os pontos sejam ligados lá na frente ... =/

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Barco furado


"Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também.Tá me entendendo? Eu sei que sim. Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena.
Remar.
Re-amar.
Amar. "

- Caio F. Abreu 

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Conselhos ..

 hahahaha.. texto informalíssimo, escrito a pedidos! É, agora faço textos por encomenda! =)

Pra começar é bom que algo fique bem claro: as mulheres são extremistas, ou 8 ou 80, mas não esperam dos homens a mesma atitude. É aquela coisa do meio termo, que eu não gosto tanto, mas que quase sempre é o ideal. Deixa eu explicar: mulheres não gostam de caras que correm atrás, mas também não gostam de caras que desaparecem. Mulheres não gostam de homens sem atitude, mas abominam homens que não respeitam os limites, entenderam mais ou menos a ideia?!

Pra conquistar uma mulher é muito simples. Eu já disse isso aqui em textos anteriores, 'tudo o que as mulheres querem são homens inteligentes, que saibam ser divertidos com frequência, sérios quando conveniente, sistemáticos quase nunca, discretos quase sempre e brutos quando necessário'. As mulheres admiram homens inteligentes, divertidos e discretos. E as mulheres, sem generalizar, não gostam de tomar a iniciativa. E homens, estejam certos disso: as vezes você já fez tudo o que devia fazer e  a garota já está na sua, ainda que você não saiba. Então, não se sinta rejeitado antes de agarrá-la pelo braço encostá-la na parede e dizer: (bom, você não precisa dizer nada se não quiser!^^). Seja corajoso, ainda que não esteja certo da reciprocidade da vontade. Se você acha que vale a pena tentar, o que é um tabefe na cara ??

Toda aquela bobajada de romantismo também é sempre muito válida. Flores, chocolates e demonstrações públicas de carinho abalam qualquer coração enrijecido. A mulher gosta de pensar que é a única mulher do mundo; então, demonstração pública de carinho vai convencê-la de que ela é especial, em relação as outras, e de que você não tem problema nenhum em demonstrar "pro mundo" o que você sente por ela.

Outra coisa: as mulheres gostam de saber onde estão pisando, e geralmente, gostam de chão firme. Elas quase nunca trocam o certo pelo duvidoso.

A estrada pode ser um pouco longa, mas não é complicada. Conquistar uma mulher é muita fácil, basta querer. Se sentir que vale a pena, vá em frente.. os degraus estão aí ... 

sábado, 17 de setembro de 2011

Da minha fuga e do meu desejo

Ela estava sentada no canto esquerdo, no fundo da sala escura a admirar  a lareira mais adiante. O fogo ardia dolorosamente tentando irradiar calor e deixar o local mais aconchegante. Ela se enrolou em si mesma buscando uma posição confortável. Passou os braços pelos joelhos, puxou a colcha para cima dos ombros e ficou a observar o fogo. Ele flamejava como se fosse o ser mais importante do universo, como se fosse o início e o fim de tudo – e soubesse disso. A lenha havia sido colocada há bastante tempo, mas as chamas ainda eram fortes e onipotentes.
Ela se espremeu ainda mais contra a parede buscando calor. Sentiu suas costas baterem no concreto em estado de congelamento e se encolheu como um aracnídeo perto da morte. Fechou os olhos com dor, mas se recusou a ir em frente. Espremeu-se ali o máximo que pode, até ficar totalmente encoberta pela escuridão da sala. Enrolou-se na colcha como se fizesse um casulo. Sentiu-se protegida. Tendo apenas os olhos a mostra, voltou a admirar o fogo.
Logo, logo sentiu a comodidade que a segurança trazia, esqueceu-se do fogo, que agora soltava labaredas azuis e quase alcançava o topo da lareira, e adormeceu.
Teve sonhos tumultuados. Sonhou que caminhava por uma gigantesca estrada sem fim e sem pessoas, onde as laterais pareciam abismos e onde todas as bifurcações – ou atalhos para o nada – levam-na até um colossal labirinto de fogo. Não teve medo. Quando se viu diante de algo tão grandioso e sublime foi tomada por um enorme contentamento. Teve vontade de se atirar às chamas e se entregar  ao brilho e ao calor que dali emanava. Colocou nas chamas, em primeiro momento, as mãos; ao sentiu algo gostoso percorrer seus dedos, colocou os pés, as pernas, os lábios e o corpo inteiro. Sentiu-se fogo, como se a partir daquele momento fossem um único ser. Seus sentimentos vacilaram e foram se transformando a medida que o fogo ia rompendo a pele e dominando seu íntimo. Sentiu primeiro, exultação, depois confiança. Talvez algo parecido com fervor, e por último – antes do fim – sentiu amor.
Nunca se sentira tão feliz e tão amada. Pensou que o dominaria. Não havia mais ninguém ali, e o fogo, de agora e em diante, seria só dela.
Porém, antes que pudesse repetir este pensamento, algo aconteceu. As coisas já não eram mais tão seguras quanto antes; sentiu o fogo condensar e começar a queimar seu corpo. Já não havia mais pés nem mãos, o seu peito ardia flamejante e a fumaça começou a sufocá-la. Lutou para sair dali, mas estava tão envolvida pelas chamas que todo esforço foi em vão.
Minutos depois, despedaçada em pó e cinzas, perdeu os sentidos.

Acordou de volta na sala escura debatendo-se contra o chão, retirando as colchas em busca de ar. Estava tendo este pesadelo de forma tão freqüente que nem se sentiu aliviada ao se perceber ali. Sem demoras voltou-se ao trabalho de se manter aquecida.
Viu-se ali, presa e sem saída. A sala não tinha portas, nem janelas. Não havia nada ali a não ser ela, a lareira, a escuridão e o medo. Permaneceu trancada naquele mundo  por meses, talvez anos. O inverno se tornava cada vez mais rigoroso e apenas os trapos velhos que a cobriam já não a mantinham mais aquecida... Então, lutou contra a definição que fizera antes, teve uma briga ferrenha com seu orgulho e teve que decidir entre a vida afortunada e a morte gradativa e inevitável.
Libertou-se do seu casulo e da sua fortaleza, retirou as armaduras e abriu o peito; ergueu a cabeça e foi adiante. Um pé de cada vez, uma superação de cada vez, até que chegou ao pé da lareira. Ao sentir o calor, percebeu seu coração se inquietar e uma aconchegante onda percorrer seu corpo. Hesitou por um momento, ainda na dúvida, decidiu dar mais um passo. Sentiu-se salva. Mesmo diante do perigo sentiu-se protegida. Entendeu, finalmente, que o fogo estaria sempre ali, numa materialização de abrigo: das coisas, do cheiro e do abraço.  Jurou não se aproximar demais, nem tentar dominá-lo. O deixaria livre, alimentaria as chamas e não fugiria dele. Nunca mais!

- Marina   
pra combinar com a inspiração: 


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Da minha indignação

Na maioria dos dias, quando levanto a tempo, gosto de assistir o Bom Dia Brasil. Uma porque na hora do Jornal Nacional estou na faculdade e outra, porque acho as reportagens desse  mais interessantes e menos sensacionalistas. Mas, hoje, eu fiquei muito chateada quando fizeram a chamada para os Esportes e o âncora responsável disse:

“E ontem na final da Copa América de Basquete, a Argentina não deu chances para o Brasil e venceu por 80 a 75. Ambos já estavam classificados
para as Olimpíadas de 2012”.

Enquanto ele narrava esta pequena ‘manchete’, as imagens do jogo iam passando ao fundo. Depois de terminar ele disse: “E nessa quarta-feira tem amistoso, Brasil e Argentina” chamada esta para uma imensa reportagem, com entrevistas com os jogadores que estavam chegando no hotel em Córdoba e tudo mais.
Eu olhei pra TV e pensei: meu Deus! Fico muito indignada de pertencer, de forma tão taxativa, ao país do futebol.

Sem desmerecer todo o mérito que, no passado, a Seleção Brasileira de Futebol tinha, e toda a alegria que já deram para o nosso país, mas já está passando da hora de perceberem que o Brasil também já se tornou o país do Volei, do Basquete, da Natação, do Judô, do Salto com varas, do Atletismo e de tantos outros.

Ontem nada mais era que a final da Copa América de Basquete, e o jornalista tirou todo o mérito de uma seleção que, mesmo sem incentivo, lutou até o final para ser campeã! Não teve nada disso de que a Argentina não deu chances pro Brasil. O Brasil, sim, que apertou de mais a Argentina.

Como as coisas, de verdade, aconteceram:

Como a seleção brasileira estava em festa, depois de conseguirem a classificação para as Olimpíadas, todos os jogadores chegaram ao jogo com a sensação de dever cumprido. De visual novo (e eu me recuso a dizer que é à la Neymar, porque não foi o Neymar que inventou o moicano) não levaram o primeiro quarto muito a sério, e deixaram a Argentina abrir dez pontos de vantagem. Depois, porém, o Brasil resolveu jogar. Chegou a virar o jogo e disputou ponto a ponto com a Argentina até o último quarto. O final do jogo foi realmente emocionante (gente, eu vi o jogo!), o Brasil teve chances reais de ganhar, e fizeram tudo que podiam; aproveitando dos erros argentinos e fazendo valer o talento dessa nova geração do basquetebol brasileiro. - Quem entende de basquete sabe que cinco pontos de diferença não é nada. E a seleção brasileira saiu realmente vencedora desse jogo!

Parabéns, Brasil !! 

foto: //sportv.globo.com
  - Marina

sábado, 3 de setembro de 2011

Está faltando anjos no céu

Hoje, diante de uma situação tão inusitada, cheguei à conclusão de que só existem duas explicações plausíveis:  ou o mundo é muito cruel e perverso, e Deus tem muita pena das pessoas boas que aqui vivem e resolve levá-las primeiro, ou está faltando anjos no céu, e Deus resolveu convocar as pessoas mais maravilhosas que existem para completar essa falta, e assim, fazer delas nossos anjos protetores para que ficasse mais fácil a tarefa de olhar por nós. 

Em menos de seis meses eu perdi duas das pessoas mais integras que já conheci na vida. Pessoas admiráveis que me ensinaram bastante do que sei, e que sempre estiveram tão presentes que eu jamais pensei que fossem partir. Quando perdi meu amigo, há pouco mais de quatro meses, senti uma verdadeira revolta contra Deus. Achei que não era justo levar uma pessoa tão boa e tão pura; pensei em castigo e achei que era mais sensato levar pessoas ruins e cruéis. Ontem, porém, percebi que Deus resolveu foi buscar os anjos que ele mandou para cá. O mundo está cada vez mais atroz e Deus está precisando de ajuda lá em cima...

Tenho certeza de que tenho dois anjos olhando e intercedendo, a Deus,  por mim!

                  ...


quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Por que eu leio a Playboy

Mulheres, leiam isso: 

O blogue do Pablo publicou ontem um texto super irreverente de Fernanda Wenceslau que eu acho que todas as pessoas, principalmente as mulheres deveriam ler. Não vou falar muito, nem vou falar do que se trata, mas só pelo título do texto acho que já da pra ter uma idéia. - Vale a pena, é muito bom! Fica aí a dica .. 

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Entendendo Parmênides

.. e tentando defender Heráclito.

“Em uma assembléia, um argumentador defende a opinião de que a guerra é boa para nós; enquanto outro defende a opinião contrária. Vencerá aquele que melhor souber persuadir a opinião alheira, e não a melhor idéia.”

            Pode até ser que não existe “não ser”; que as coisas e os seres sejam essencialmente imutáveis e que a mobilidade não passe de mera ilusão.  Mas, ainda que seja no campo da opinião, os homens precisam achar que são capazes de evoluir e de se modificarem.
            Durante vinte e quatro horas dos seus dias e de trezentos e sessenta e cinco dias dos seus anos, o homem está olhando para o futuro acreditando que tudo vai ser diferente, que nada do que ele faz é em vão e que ele só caminha porque vai chegar a algum lugar. Segundo Parmênides em 99% do seu cotidiano o homem vive no plano da opinião, do “achismo”, e não procura conhecer a verdade dos fatos. Mas espera aí?! Já imaginou se pelo menos 50% das pessoas passassem o dia a refletir, tentando encontrar fatos concretos e percebessem que tudo é estável, que tudo não passa de opinião, que a vida é um círculo sem fim, e que ela não vai chegar a lugar algum?! É, de fato, é melhor ficar no plano dos conceitos leigos, nos quais compreende-se que tudo passa, que tudo flui.
            Eu acordo todos os dias achando que mudei, sentindo saudade de algumas coisas que fui e não sou mais, e tendo a certeza de que sou um banco de dados, que vem recebendo informações, acumulando conteúdos e formando opiniões ao longo desses 21 anos. Se eu estou feliz de estar onde estou?! Claro! Porque tenho a certeza que continuo caminhando e que amanhã não serei mais a mesma e nem meus caminhos serão mais os mesmos; afinal de contas, defendendo Heráclito, uma mesma pessoa não pode cruzar a mesma rua duas vezes. 
 - Marina

pra combinar com meu mobilismo :


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Curiosidade

(...) E ali estava um fato incontestável para ela, que olhava a diante como se tivesse descoberto o mundo: não eram os caminhos que se cruzavam, era ele que insistia em andar sobre seus caminhos, feito alguém que não sabe para onde vai, mas sente-se seguro ao apoiar-se em alguma coisa.

significado de coisa - tudo o que existe; todo ser inanimado, animado, real ou aparente.
anagrama de coisa -  cisão.  significado: separação, rompimento.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Por que amamos alguém?

   




Um dia li em algum lugar a explicação de porque amamos alguém, o texto não era detalhado, mas falava algo sobre honestidade, caráter e bom gosto. Dizia que não amamos alguém por ser educado ou por ser fã do Caetano Veloso, que esse tipo de coisa é apenas referência, que na verdade o que nos leva a amar é o mistério e o fascínio que alguém nos provoca.
Concordei em parte. É claro que precisamos nos sentir fascinados, e atraídos por algum tipo de mistério, mas há coisas que são muito mais significantes e que não podem ser vistas apenas como referências, dentre elas há duas que me encantam: a coragem e a inteligência, não necessariamente nesta respectiva ordem de importância.

Quando falo de coragem, que isso fique bem claro, não me refiro a um super-homem, com super poderes que aparece sempre que precisamos, luta contra os piores malfeitores e nos livra dos piores apuros. Quando falo de coragem quero dizer sobre aqueles que ‘não tem medo’, que encaram a vida como uma grande aventura única, que acreditam nos seus sonhos, que são fortes para lutar e para conquistar tudo aquilo que desejam.  Admiro aqueles que sabem o que querem e que acreditam que querer é poder, não havendo nada no mundo que possa impedi-los de chegar onde anseiam.

Tomando a liberdade de parafrasear Vinícius de Moraes eu diria: os muito burros que me perdoem, mas a inteligência é fundamental. Quem nunca ouviu dizer que inteligência é afrodisíaco? Não há nada mais charmoso na face da Terra do que uma pessoa que saiba falar de qualquer coisa e que tenha opinião (sem impô-la, claro) sobre diversos assuntos. Não sei se é porque eu tenho verdadeira 'birra' de ficar inventando argumentos e 'esticando papo' pra estabelecer um diálogo legal, que, pra mim, não há nada mais confortável que um homem que saiba conversar, que saiba ser fluente e deixar as coisas rolarem.
Agradar as mulheres não é difícil, pelo contrário, tudo o que as mulheres querem são homens inteligentes, que saibam ser divertidos com frequência, sérios quando conveniente, sistemáticos quase nunca, discretos quase sempre e brutos quando necessário.

Mudando um pouco de foco, há algo que é extremamente relevante e que eu não posso deixar de mencionar. Eu já ouvi dizer que toda mulher sabe se tem alguma probabilidade do relacionamento dar certo, a partir do primeiro beijo. Pode até ser que isso funcione ou que tenha algum fundamento lógico, afinal ninguém quer continuar saindo com alguém cujo beijo é ruim, mas o que realmente importa pra mim, até mesmo antes do primeiro contato bucal, é a compatibilidade do abraço. Nunca tive um relacionamento que durasse se o abraço fosse incomodo ou desconfortável.
Uma vez saí com um garoto que me enforcava toda vez que ia me abraçar. Ele me abraçava de gancho, com apenas um braço; desisti dele antes mesmo de beijá-lo. Em outra ocasião saí com garoto que era bem alto e que me abraçava pelos ombros apertando minhas costelas e eu tinha que ficar mirando o teto para conseguir respirar. Este foi só mais um que tentou me matar, nosso relacionamento durou pouco mais de três semanas. Quando meus relacionamentos duraram de verdade foi quando num fechar de braços eu me senti em casa, foi quando cada canto do meu corpo encontrou uma brecha para se acomodar no corpo de lá; foi quando eu senti que o mundo podia desabar lá fora que eu estaria protegida ali.

Sinceramente, acho que não sei por que amamos alguém. Vai ver existem coisas que são apenas referências, ou vai ver o que realmente importa é o jogo de mistérios. Definitivamente, eu não sou a melhor pessoa para falar de amor, muito menos pra definir este sentimento pra mim. Mas referências ou não, sou simples assim como aquilo que me encanta: coragem, inteligência e um bom par de braços.

- Marina 

Fragmento II

' (...) Verdes e nauseados, eles não saberiam exprimir. A casa simbolizava alguma coisa que eles jamais poderiam alcançar, mesmo com toda uma vida  de procura de expressão. Procurar expressão, por uma vida inteira que fosse, seria em si um divertimento, amargo e perplexo, mas divertimento, e seria uma divergência que pouco a pouco os afastaria da perigosa verdade - e os salvaria. Logo eles que, na desesperada aspereza de sobreviver, já tinham inventado para eles mesmos um futuro: ambos iam ser escritores, e com uma determinação tão obstinada como se exprimir a alma a suprimisse enfim. E se não suprimisse, seria um modo de só saber que se mente na solidão do próprio coração. ' 
 (Clarice Lispector - Felicidade Clandestina; conto: A Mensagem  -  p.130)

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Projeção


Naquele dia ela acordou desejando freneticamente que alguém munido de uma supra inteligência tivesse desenvolvido uma tecnologia que a possibilitasse voltar no tempo. Levantou-se apressada, ligou a TV, assistiu o noticiário, e nada. Voltou ao seu quarto, abriu uma das gavetas da cômoda na qual guardava seus diários, escolheu um deles aleatoriamente, abriu uma página e leu alguns trechos. Fechou os olhos apertando ligeiramente as pálpebras esperando que alguma coisa acontecesse, mas nada aconteceu. Então, reabriu os olhos e se viu ali, uma mulher estúpida de vinte e poucos anos, sentada em uma cama pequena de um quarto pequeno, de uma casa pequena em uma rua pequena, de uma cidade pequena de um mundo gigante. Sentiu que era apenas uma mulher estúpida querendo voltar a ser criança.
“Que saudade de mim, de quando tinha nove anos” - pensou. “Quando eu tinha esta idade, sabia exatamente o que estava fazendo e tinha certeza de onde eu iria chegar. Quando eu tinha nove anos, me sentia forte e madura, havia um brilho estranho no meu olhar e um sorriso entusiasmado no meu rosto. Hoje sou apática e fraca, minhas pernas mal suportam o peso do meu copo e há  qualquer coisa com o peso de um mundo instalado nas minhas costas. Hoje eu não faço a menor idéia de pra onde estou indo e tenho sérias dúvidas se vou conseguir chegar em algum lugar.” - Depois de um ou dois minutos olhando pros retratos que ficavam sobre a escrivaninha, ela colocou a mão sobre os olhos e esperou que acontecesse. Logo, logo vieram os soluços e a respiração ficou ofegante, várias lágrimas despencaram e molharam os dedos que tentavam esconder aquele rosto gélido e sofrido de uma criança que acordara de repente e percebera que havia um universo lá fora, com pessoas e seres estranhos que exigiam dela algo muito além do que ela estava preparada para oferecer. Quis se esconder. Debaixo da cama talvez fosse o melhor lugar. Entretanto, apenas se virou, deitou-se e ficou a admirar o teto por alguns segundos.  
Sentiu falta  de quando o seu maior medo era o escuro.  Sentiu saudade de quando os desafios eram nadar até a grade da lagoa ou atravessar a piscinona do clube. Sentiu saudade do tempo que  não tinha responsabilidades e de quando ficava a tarde inteira de pernas pro ar vendo Pica-pau, Tom e Jarry, Pateta e Max, Mickey e Donald, comendo fandangos,  e aquilo não lhe trazia uma imensa sensação de culpa.  Sentiu saudade de pensar ‘no que seria quando crescesse’ e desejou, por um momento, esquecer que havia crescido.
Sentiu saudades de quando as pessoas confiavam nela, de quando era uma das primeiras da turma, certamente premiada no final do ano pelas boas notas. Sentiu saudade de quando a cidade era pequena demais, e de quando ela acreditava que tinha asas e que poderia voar. Sentiu saudade do tempo em que lhe denominavam ‘a artista’, ‘a cheia de talentos e a de futuro brilhante’. Sentiu saudade dos palcos, da criatividade e dos sorrisos. Sentiu falta dos amigos que deixara lá atrás, em algum lugar. Sentiu falta do que era e repugnou aquilo que havia se tornado.
Ergueu-se lentamente, como se fosse uma rocha e alguém estivesse a guinchá-la. Foi até o banheiro, jogou um pouco de água no rosto e viu sua imagem refletida no espelho.  “Cadê a arte que estava em mim?”  - pensou. “O gato comeu ou o tempo levou? Não me reconheço mais quando me olho no espelho. Ques olhos sem brilho são estes que me fitam? Onde foi parar aquela criança que acreditava que tudo era possível?” - Magicamente a imagem se mexeu e foi se dissolvendo paulatinamente até que ela percebeu que alguém com um sorriso tímido a admirava. Era uma criança de nove ou dez anos, pele clara, cabelos cacheados que escorriam pelos ombros, um ar de autoestima elevado e confiança. A imagem mais uma vez se dissolveu, e aos poucos, com certa dificuldade, outra foi se formando. Desta vez uma senhora de uns sessenta anos, cabelos curtos e mal pintados, com um olhar triste e frustrado, olhou para ela. Quando a percebeu ali, a mulher cerrou os olhos e havia raiva neles, como se culpassem a jovem de alguma coisa. Ela tentou dizer “sinto muito”, “não foi minha culpa”, mas a mulher se fora, a imagem havia sumido, e tudo que ela viu diante de si foram seus olhos cheios de medo - sentimento este, aliás, era o único que sabia sentir há dias – novamente no espelho.

 - Marina


Pra combinar:


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Fragmento

'(...)Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria - e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. é porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque eu sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato pra mim.' 
( Clarice Lispector - Felicidade Clandestina; conto: Perdoando Deus -  p.43,44 )


terça-feira, 5 de julho de 2011

Estatística Solidária

             Na última quinta-feira, dia 30,  Arthur Domâcio de 5 anos faleceu vítima de leucemia, no Hospital das Clínicas de São Paulo. O garoto havia se tornado símbolo da campanha ‘ 5ml de esperança’ que comoveu todo o estado de Minas Gerais e atingiu números recordes no cadastramento de doadores de medula óssea. Só em Patos de Minas, cidade natal do pequeno Arthur, foram feitos 1700 cadastros em um único dia.
            Em pouco mais de três meses foram feitos 30 mil cadastros no estado de Minas Gerais sendo 4 mil na cidade de Patos de Minas. Estatística histórica.
            Porém, se partirmos do princípio que de acordo com os dados do IBGE – Censo 2010 a população brasileira atual é de 190.732.694 habitantes, que Minas Gerais é o segundo estado mais populoso do Brasil, quase 20 milhões de habitantes e que  Patos de Minas é a 16ª cidade do estado em população com 138.836 habitantes; este número ainda é muito pequeno.
            Encontrar um doador compatível é praticamente impossível. Arthur lutou contra o seu câncer desde os 2 anos de idade, milhares de cadastros foram feitos nestes três anos e mesmo assim ele não conseguiu encontrar um doador. Quanto mais cadastros forem feitos, maior será a chance de encontrar essa ‘agulha no palheiro’.
            O anjinho Arthur se foi, mas a campanha não pode parar. Eu sou doadora de medula óssea, seja você também um doador de esperança! 

 - Marina 

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Preferências

 Nota de explicação:
               Sinceramente, eu não sei explicar como o poema da postagem anterior não foi a primeira postagem deste blog, uma vez que ele é, sem sombra de dúvidas, o meu preferido. Acho que gosto primeiro daquilo que me intriga, depois daquilo que não entendo e por fim daquilo que tento explicar. Este poema mexeu comigo na primeira vez que eu o li, e apesar do tamanho, me lembro que reli umas cinco vezes naquele dia. Cheguei a pedir um professor na Universidade que fizéssemos uma análise sobre ele, mas nunca sobrou tempo. 
            Acho que todo ser humano, se identifica com esse poema em pelo menos um momento de suas vidas. Eu me identifico com ele a todo momento; ora com o poema todo, ora em partes, eu o acho simplesmente magnífico, perfeito! 

'Se eu fosse mulher cada poema de Álvaro de Campos
seria um alarme para a vizinhança. 
Mas sou homem - e nos homens a histeria 
assume principalmente aspectos mentais;
Assim tudo acaba em silêncio e poesia... '

                                          Fernando Pessoa 


Pra quem tem preguiça de ler: 


                                                                                     obs: português de Portugal 

TABACARIA

    Não sou nada.
    Nunca serei nada.
    Não posso querer ser nada.
    À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


    Janelas do meu quarto,
    Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
    (E se soubessem quem é, o que saberiam?),
    Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
    Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
    Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
    Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
    Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
    Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.


    Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
    Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
    E não tivesse mais irmandade com as coisas
    Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
    A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
    De dentro da minha cabeça,
    E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.


    Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
    Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
    À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
    E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.


    Falhei em tudo.
    Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
    A aprendizagem que me deram,
    Desci dela pela janela das traseiras da casa.
    Fui até ao campo com grandes propósitos.
    Mas lá encontrei só ervas e árvores,
    E quando havia gente era igual à outra.
    Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?


    Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
    Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
    E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
    Gênio? Neste momento
    Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
    E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
    Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
    Não, não creio em mim.
    Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
    Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
    Não, nem em mim...
    Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
    Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
    Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
    Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
    E quem sabe se realizáveis,
    Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
    O mundo é para quem nasce para o conquistar
    E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
    Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
    Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
    Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
    Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
    Ainda que não more nela;
    Serei sempre o que não nasceu para isso;
    Serei sempre só o que tinha qualidades;
    Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
    E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
    E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
    Crer em mim? Não, nem em nada.
    Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
    O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
    E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
    Escravos cardíacos das estrelas,
    Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
    Mas acordamos e ele é opaco,
    Levantamo-nos e ele é alheio,
    Saímos de casa e ele é a terra inteira,
    Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.


    (Come chocolates, pequena;
    Come chocolates!
    Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
    Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
    Come, pequena suja, come!
    Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
    Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
    Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)


    Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
    A caligrafia rápida destes versos,
    Pórtico partido para o Impossível.
    Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
    Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
    A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
    E fico em casa sem camisa.


    (Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
    Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
    Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
    Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
    Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
    Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
    Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
    Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
    Meu coração é um balde despejado.
    Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
    A mim mesmo e não encontro nada.
    Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
    Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
    Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
    Vejo os cães que também existem,
    E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
    E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)


    Vivi, estudei, amei e até cri,
    E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
    Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
    E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
    (Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
    Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
    E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente


    Fiz de mim o que não soube
    E o que podia fazer de mim não o fiz.
    O dominó que vesti era errado.
    Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
    Quando quis tirar a máscara,
    Estava pegada à cara.
    Quando a tirei e me vi ao espelho,
    Já tinha envelhecido.
    Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
    Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
    Como um cão tolerado pela gerência
    Por ser inofensivo
    E vou escrever esta história para provar que sou sublime.


    Essência musical dos meus versos inúteis,
    Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
    E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
    Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
    Como um tapete em que um bêbado tropeça
    Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.


    Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
    Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
    E com o desconforto da alma mal-entendendo.
    Ele morrerá e eu morrerei.
    Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
    A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
    Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
    E a língua em que foram escritos os versos.
    Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
    Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
    Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,


    Sempre uma coisa defronte da outra,
    Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
    Sempre o impossível tão estúpido como o real,
    Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
    Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.


    Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
    E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
    Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
    E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.


    Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
    E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
    Sigo o fumo como uma rota própria,
    E gozo, num momento sensitivo e competente,
    A libertação de todas as especulações
    E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.


    Depois deito-me para trás na cadeira
    E continuo fumando.
    Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.


    (Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
    Talvez fosse feliz.)
    Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
    O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
    Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
    (O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
    Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
    Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
    Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.



    - Álvaro de Campos