segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Fragmento

'(...)Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria - e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. é porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque eu sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato pra mim.' 
( Clarice Lispector - Felicidade Clandestina; conto: Perdoando Deus -  p.43,44 )


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