- das temáticas anteriores
sugestão de título : Proibido pra mim, no way!
Era uma manhã azul de sábado. Se era outubro ou setembro eu não me lembro bem. Me lembro apenas, de vê-la se levantando arrastada e com preguiça de se entregar ao sol e ao cheiro doce da dama da noite que acabava de adormecer. Abriu a janela e se despiu. Deixou que a água do chuveiro a despertasse e se preparou para o dia que seria longo.
Ele devia estar em algum canto da cidade que ela não sabia. Provavelmente já devia estar desperto há horas. Devia estar com um largo sorriso no rosto, que ela ainda não conhecia, e se ocupando de coisas que são realmente importantes nesta vida.
Ela se animou depois do café. Vestiu uma roupa comum e saiu. Tinha um compromisso logo pela manhã e não podia se atrasar. Caminhou apressada até o local do evento. No caminho, se distraiu observando as crianças que alimentavam os peixes na beira do lago, e quase perdeu a hora. Quando finalmente chegou, desejou que os segundos passassem ligeiros para que ele pudesse voltar logo para casa. Levantar cedo, em um sábado, por mais que ele fosse lindo e ensolarado não era das suas preferências. E ansiou muito por mais alguns minutos de sono. Era um evento beneficiente de uma escola da região, e sendo obrigada a estar ali, não foi entusiasmada nem pelos gritos do pipoqueiro e nem pelos palhaços que animavam o grande largo ao lado da rua.
Continuou quieta, no canto que escolheu para se acomodar. Encontrou alguns amigos, conversou com alguns estranhos. No vai e vem das palavras, falou-se sobre tudo, as horas passaram ligeiras e os assuntos se estenderam. Hora ou outra, pessoas a incomodavam: ofereciam balas, rifas, cosméticos, mudas de todas as plantas e animais para a adoção. Tudo era desnecessário e supérfluo até que ele apareceu.
A abordagem foi certeira. Ele tinha lábia como todos os homens. Falou muito, mostrou-se muito. Sorriu bastante. Se não fosse aquela dúvida de interesse que ele deixou no ar, provavelmente ela não o teria olhado de novo. Teria ignorado e deixado para lá como tem feito com todos aqueles que são comumente previsíveis. Mas ele continuou a sorrir e fitá-la de longe. Na hora ela nem percebeu, mas, semanas depois desejou que todos os sorrisos e pelo menos alguns olhares, fossem, de determinada maneira, dedicados a ela.
No momento, apesar da estranheza, o reconheceu como comum a todos os outros. Inteligente, simpático, bem apresentável e galanteador. Como aqueles que sabem usar as palavras e o charme a seu favor e conquistar pessoas e espaços pelo simples prazer de conquistá-los e não com a vontade prendê-los. Por isto, desde o início, não deixou-se prender. Sorriu de leve e manteve seu coração firme, afixado a todas as coisas que já tinha visto e aprendido sobre a vida. Deixou ele ir.
Dias depois o encontrou por acaso. Percebeu-se alguns amigos em comum. E além de amigos muitas outras coisas. Conversavam pouco, quase nada. Todos os dias que se viam (por acaso) ela deixava que somente ele falasse e ficava apenas ouvindo. Gostava da maneira como ele expunha todas as coisas e de como tudo se tornava mais simples quando ele dizia. Gostava do modo como ele falava diretamente pra ela, ainda que não soubesse disso, como se adivinhasse tudo o que ela sentia e precisava ouvir.
Com o tempo, ela passou a perceber como e onde encontrá-lo. O acaso não foi mais necessário e ela passou a fazer com que os tais encontros acontecessem. Ele estaria lá, no mesmo horário. E ela poderia procurá-lo sempre que sentisse que estava pronta, ou quase pronta. Ou precisando de reparos. Para ouvi-lo apenas e se sentir melhor, completa e em paz.
Quando estava com ele, costumava fechar os olhos para ouvi-lo falar. Sentia-se como quando era criança e a mãe vinha lhe contar histórias de anjos para fazê-la dormir.
Após a primeira vez que teve a tal experiência nostálgica de completude, passou a guardá-lo com todo carinho e cuidado no seu coração. Fez questão de escolher calmamente o local onde o deixaria. Não podia permitir que ele ficasse perto demais da saída para que não escapasse na primeira aventura. Nem muito ao fundo para que não pudesse machucá-la. Sabia que certas coisas foram feitas para estar apenas no campo nas ideias, e não para se materializarem em corpos físicos.
Deve ter sonhado com ele uma ou duas vezes enquanto dormia, e se repreendeu por isso. Se permitia sonhar com ele apenas, enquanto estivesse acordada pois, assim, sabia até onde poderia ir. O imaginou algumas vezes: o vestiu com armaduras, o pintou de príncipe encantado; deu a ele uma áurea dourada e vestes de seda branca. Nunca, porém, o tirou do mundo sonhos, e nem o quis tirar. Não interprete mal nossa protagonista, meu caro leitor, ela sabe que tem coisas que são feitas para viver e que outras são feitas para sonhar. E que as vezes o sonho é melhor que a realidade, pois a realidade, na maioria das vezes, destrói a perfeição que o sonho tem.
- Marina
sempre tem uma música pra combinar com a ispiração:
Só agora li tudo haha Mas é verdade, agora entendo o que o nosso querido colega W quis dizer. ahauh Mas vai saber, só o cara pode fazer o sonho ser melhor que a realidade -ou não.
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