No último domingo me perdi por um
bom tempo ouvindo algumas reflexões do Pe. Fábio de Melo, no Youtube. Eu gosto
de me espiritualizar as vezes. E isso é muito importante! Quase nunca tiramos tempo para meditações e reflexões, e isso vai fazendo da gente uma
máquina imbuída em rotinas humanas.
Uma das palavras do Pe. Fábio, isto posto, me chamou a atenção e me remeteu a você...
Ele contou a história da Tia
Ló, uma senhora que o incentivou a ser padre. Que lhe encorajou a abandonar a
casa dos pais e a arriscar-se na vida, uma pessoa que, sabiamente, o Pe Fábio
disse: “me expulsou de mim”.
Eu não estarei falando bobagem
nos próximos parágrafos, leitor. Mas, vai ficar meloso, então, se não quiser
ler “nhenhenhe”, pare por aqui. Eu não
vou falar de coisa passageira, e nem é daqueles textos que contam de uma paixão
que passou. Será um canto de agradecimento a quem mudou a minha vida e “me
expulsou de mim”.
Quem me conhece há vários anos, e mesmo
aqueles que me conhecem há pouco, mas, já ouviram as minhas histórias (É, eu
falo muito!), sabe que nem sempre fui centrada nas minhas metas. Eu era um
pouco confusa e por vezes me perguntava se havia feito a melhor escolha.
Minha primeira opção de faculdade
foi jornalismo, porque eu adorava escrever, falar e investigar. Bom, não passei
no vestibular. Para não ficar “atrasada” em relação aos meus, decidi fazer
Letras por um período – até o próximo vestibular, talvez – para melhorar minha
escrita, minha fala e meus idiomas.
O tempo passou e eu me apaixonava
por esta coisa de escrever cada vez mais. Amadora que só, mas, quem se
importava? Não queria ser professora. Não! Isso de jeito nenhum! (Bobagem né?!
Mas não vamos falar de valorização política porque este não é o foco.) Não
queria ser professora... a faculdade estava acabando e o Jornalismo não era
mais sonho nenhum... era um passado distante e não me fazia mais suspirar.
Aí saí das Letras e fui parar nas
Leis. Aquela, indiscutivelmente, era a faculdade para mim. Meu lado encrenqueiro
aflorou de uma vez e eu me achava “demais!”.
Entrei na faculdade de Direito por
causa do Direito Penal e porque acreditava naquela fantasia da mulher
maravilha. Mas, logo no primeiro ano comecei a estagiar no departamento
jurídico de uma instituição financeira. Não tinha nada a ver com a minha
proposta de curso, mas, era uma boa oportunidade de aprender e de pagar minhas
contas.
Os anos se passaram, o estagio
acabou, veio a contratação, logo, logo a primeira promoção e com três anos de
empresa, a oportunidade de ser gestora do departamento. Era de mais para mim. Eu
tinha 24 anos, não havia me formado e tinha uma responsabilidade enorme nas
mãos.
Fui levando aos trancos e
barrancos por quase um ano. Esforçando-me. Esquecendo-me do horário. Esquecendo-me
da faculdade, da família, dos amigos e de mim. Mas, precisava dar conta daquilo
ali. A qualquer preço!
Li algumas coisas sobre
liderança. Tentava me amoldar na melhor forma. Meus liderados gostavam de mim:
eu era uma “chefe” legal! Contudo, me faltava alguma coisa e eu não sabia o que
era. Eu entregava meu trabalho em dia, da forma como havia aprendido. Quase
nunca tinha erros, porque sempre fui perfeccionista com tudo. Mas, ainda
faltava alguma coisa.
É sua última chance de parar,
leitor!
(...)
No dia 06 de Agosto de 2015 eu
tinha uma viagem de trabalho agendada. Meus diretores haviam me pedido para
acompanhar uma plataforma “piloto” que estava sendo testada em uma das instituições
do Sistema para trazê-la para a nossa instituição.
Você estava lá, perdido naquele arsenal de barba. Charmoso. Sem tempo.
Estressado. Cheio de compromissos e tendo que perder dois dias com uma loirinha
do interior.
Ele só tinha 25 anos, leitor. E
na posição que estava poderia ser meu chefe. Foram dois dias de trabalho
intenso. Muito aprendizado. Toda a minha tagarelice se calou. Eu precisava
ouvi-lo falar. Fui me apaixonando por cada número, cada índice, cada relatório
e por todas as outras frações de inteligência que me subconsciente foi capturando.
Quando voltei ao trabalho dois
dias depois, nada mais era igual em mim. Alguém tinha me tirado da zona de
conforto. Me dado uma sacudidela no ombro e me expulsado de mim.
Depois de dois dias de convivência,
entendi que o que sobrava em mim era medo e o que faltava em mim era voz.
Não adiantava ser uma líder legal
e compreensiva, ser uma funcionaria dedicada, pontual, se eu tinha medo de
falar e agir. Em uma posição de liderança, não só o seu liderado deve te
ouvir, o seu líder quer te ouvir.
Ele me disse: “Marina, se eles te
deram um cargo de liderança eles querem que você lidere. Querem que você inove,
que você crie, que você busque coisas novas e que você se expresse. Caso sua opinião
seja diferente da opinião do seu líder e você tenha argumentação para defender
seu ponto de vista, fale! Seu líder quer te ouvir!”
Não sei se eu o respondi, leitor. Meu coração e minha mente estavam se fazendo de durões para manter a compostura
e não deixar vazar aquele sorriso maroto que você sabe qual é; ou aquele
suspiro de “Meu Deus! Eu vou ficar aqui para sempre!”.
Ele continuou: “Não é você quem
tem que questionar sua idade! Eles não se importaram com isso quando te deram a
oportunidade e você, também, não deve se importar se quiser continuar onde
está!”.
Ainda bem que existe tecnologia e
hoje posso dizer, leitor, que ele é meu amigo no whatsapp (aquela intervenção de
“uaaau que bo$t@”, porque sei que não é esse o final que se espera dos romances.
Me desculpe, mas vou decepcioná-lo e se você não parou lá em cima, pode parar
agora.) Eu só precisava escrever esta história, leitor, porque, sempre quis
poder dizer como me sentia a ele. E precisava que ele soubesse que foi um
divisor de águas na minha vida.
Depois que o conheci, passei a
ter voz. Recebi um, dois, três aumentos. Depois recebi uma proposta de emprego
em outra cidade para fazer exatamente aquilo que ele me ensinou a fazer.
Hoje estou vivendo a minha melhor
fase. Não só profissional, mas, de amadurecimento pessoal . Eu queria
tanto que ele soubesse que só sou tudo isso por ele.
Fui convidada esses dias para
ministrar uma palestra. Fiquei pensando se posso citá-lo como citaria Seneca ou
Platão. Ainda não terminei minha pauta. Acho que posso encaixá-lo ali em algum
lugar.
Fato é que nem sempre ficamos com
os amores das nossas vidas. E talvez ele nem seja o amor da minha vida. Mas, é
alguém que, indiscutivelmente, precisava ter passado por ela.
(...)
Você foi um instrumento de Deus,
para me direcionar o melhor caminho! E nem que eu escrevesse dez páginas ou mil
textos, eu conseguiria expressar o quanto eu sou grata a você.
Não tinha te falado da palestra
ainda! Demais, não é?!
Obrigada por tudo!
(...)
Decepcionei-me com o Direito Penal
(mas isso é assunto para outro texto, leitor), estou extremamente feliz com as minhas
escolhas.
Após ser “expulsa de mim”, encontrei
um rumo novo na vida e precisava escrever.
Nina