sexta-feira, 11 de julho de 2014

A Filha do Carrasco

da série: leiga crítica.

Oliver Pötzsch foi no mínimo audacioso. Nascido em 1970, e roteirista de TV por muitos anos, o alemão Oliver Pötzsch me surpreendeu com a mera realização de um “sonho adolescente”. A Filha do Carrasco é, até então, a sua única publicação (já com 474 páginas); um romance singular e biográfico.

Singular pois difere da maioria das coisas que já li. Embora a história seja contextualizada no século XVII, tempo de reis e rainhas, Oliver não se prende a enredos de ducados e palácios, pelo contrário, a história se passa na pequena cidade de Schongau, na Baviera alemã, e tem como protagonista Jacob Kuisl, o carrasco da cidade. Aqueles que nós nos acostumamos a ver nos filmes só de passagem, geralmente musculosos, de peitoral a mostra, com a cara tapada por panos sujos com dois buracos na região dos olhos, ou próximos às guilhotinas, ou próximo às forcas, no Romance de Pötzsch ganha história: vida, filhos, família, coragem e sonhos.

Embora a trama seja envolvida por contos de bruxas e pactos demoníacos, nos quais você se deixa perder até determinado ponto do livro, sem saber se a história penderá para realidade ou fantasia,  o enredo questiona a ignorância de um povo, que, por questões culturais, ainda prefere se prender a um universo mitológico e imaginário para resolver problemas políticos e sociais. As poucas pessoas que pensam distintamente e que não se deixam envolver por “histórias de bruxaria”, precisam encarar uma minuciosa corrida contra o tempo para encontrar o verdadeiro culpado por uma série de assassinatos e livrar da tortura e da morte iminente uma mulher inocente.

Ouso dizer que o livro é biográfico pois, Oliver Pötzsch é descendente da família Kuisl, famosa dinastia de carrascos alemã. Para a construção do seu primeiro livro, Pötzsch realizou diversas pesquisas, não só na sua árvore genealógica, mas também históricas e culturais. Embora fictício, A filha do Carrasco traz diversos dados históricos e reais, inclusive seu protagonista, que talvez não tenha sido um herói, mas que de fato existiu.
“Esse livro é um romance, não um trabalho científico. Tentei manter-me o mais próximo possível dos fatos. Não obstante, por razões dramatúrgicas, foram necessárias frequentes simplificações”. Oliver Pötzsch, maio de 2007.
Para ajudar na imaginação, algumas imagens da cidade de Schongau, da localidade da Baviera e do rio Lech, respectivamente:





A leitura é recomendadíssima. O livro é muito bem escrito, embora seja fácil perceber a evolução literária que o autor vai adquirindo ao longo das páginas. Por ter sido roteirista de TV, Oliver faz com que seu leitor se sinta preso a um filme de suspense, cujas cenas vão passando astutamente por sua frente; cada interrupção ou reviravolta da “cena” faz com que você devore as páginas seguintes até descobrir o que de fato está acontecendo.


Capa Nacional

Oliver Pötzsch



Uma observação: ainda estou confusa com relação ao desfecho do livro, mas me recuso a classificar A Filha do Carrasco no meu conceito de histórias boas e finais ruins. Estou saindo de duas leituras de características semelhantes: Morte Súbita e O chamado do Cuco; histórias  de enredos monótonos (mas bons) e finais surpreendentes. Talvez eu tenha esperado aquele ápice final que me deixasse boquiaberta. Por isso peço: Leiam, leiam!! E venham discutir comigo este livro!



Marina

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