Eu sempre acho que as pessoas esperam que eu diga alguma coisa. E eu realmente quero dizer. Foram várias as vezes que comecei este texto e não consegui ir em frente. O que fazer quando simplesmente não há palavras com as quais eu consiga me expressar?
Ela sempre tinha a coisa certa pra me dizer e eu sempre procurei escutar, mas, de uns dias pra cá, confesso que já não lhe destinava mais a mesma atenção de antes. Eu fui tão egoísta! Lembro-me como se fosse agora dos dias em que ela me pedia para ficar um pouco mais, de como ela reclamava (incansavelmente) da minha pressa e da minha ausência estendida; dizendo o quanto eu lhe fazia falta e de como ela sentia saudades.
Estando sempre ocupada, e correndo para dar conta das coisas, achei que meu álibi era plausível e de que eu fazia a coisa certa em me ausentar e me distanciar. Mas hoje vejo que tudo não passou de desculpas (e desculpas e desculpas) - podia ter doado mais de mim!
Quando as pessoas vão ficando mais velhas a gente (de uma forma curiosa) um dia chega a imaginar como elas irão morrer. Cheguei a imaginar algumas vezes. Mas, sempre pensei que Deus teria que ser muito criativo para conseguir levar alguém que tinha tanta vontade de viver. E por mais que a minha imaginação floreasse, não pensei que seria tão rápido assim...
Ainda que com a idade avançada, digo que foi rápido de mais... ela era eterna pra mim!
Ela ainda sonhava. Nas nossas conversas ela sempre me dizia dos planos futuros, não os dela, mas os que ela fazia em projeção a nós, e me perguntava se estaria viva para presenciar todos eles. Eu dizia que sim, ainda que eu soubesse que alguns demorariam muito para acontecer, deseja profundamente que ela ainda estivesse ali.
Hoje eu sei que faltará alguém quando certas coisas acontecerem. Mas, sei que embora a presença dela não se faça de forma palpável e visível, ela sempre estará perto de mim: vibrando em cada conquista e me protegendo diante das dificuldades. Assim como ela cuidou de mim quando nasci, e como ela me colocou no colo quando precisei, sei que, de onde ela estiver ela continuará cuidando de mim e me acalentando. Ela me criou pra vida (dizem que vó é segunda mãe), ela me ensinou como lutar e como enfrentar o medo, e ainda que seja sem o seu calor, sei que estarei pronta, e que simplesmente o seus ensinamentos e conselhos ressoando ao pé do meu ouvido me fará senti-la aqui (perto de mim) - pra sempre!
Os avós sempre têm esse jeitinho de mimo e de cuido que, acredito eu, vem meio que do inconsciente pra dar apenas o dengo, já que temos quem nos puxem as orelhas.
ResponderExcluirQuando perdi meu avô, eu percebi que eu nunca dei realmente a atenção que eu deveria ter dado; assim como sei agora como ele se sentia quando via uma bala de canela (aquela redondinha e dura em papel de plástico transparente/vermelho/branco) e comprava pra trazer pra mim e pra minha irmã. Agora eu sempre me lembro dele quando vejo aquelas balinhas, e assim imagino que ele sempre se lembrava da gente também. Ai, saudadinha!
Que você fique também com essas lembranças bonitinhas de sua avó :)
Adorei o texto, mcb!