quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Já não te sinto mais como antes. Te olhar não é mais tão simples. Seu cheiro já me confunde o olfato e o tato, que antes brincava moleque, agora, sem jeito, se esconde sempre que te quero. Ah e como quero! Te olho branco a minha frente e te rabisco com os primeiros traços que me vem a mente, distorcidamente alheios, e sorrio. Já foi tão fluido ter você, já foi tão simples me debruçar por horas em correntezas de versos soltos que se conectavam com coesões sem paradoxos. Já foi tão simples dedilhar sem me cansar, sem ler a cada segundo a sentença disposta pelo simples fato de você ser meu eu sem revisões. Já formos Fernandos e Cecílias, Alvaros e Willians e agora só somos lacunas em rascunhos apagados, arquivados e não lidos.

Eu só queria brincar com você como outrora. Eu só queria te escorregar como antes, seja na folha da bananeira como analogia a gargalhada infantil que exalo toda vez que a vida me vira do avesso e me esbarro no meu amor eterno, seja na cachoeira que meus olhos derramam todas as vezes que a folha da bananeira tropeça no vão que existe entre o eterno e o finito e me desmancho em realidades de mulher sofridamente empoderada para continuar adiante.

Eu só queria gotejar palavras como a chuva respinga lá fora e te preencher como enxurrada em correnteza com barquinho de papel. Tem que ter largada, e o barquinho navega até a chegada para arrancar sorrisos de quem o vence ou questionamentos de quem o lê. Metáforas nunca foram o meu forte, mas, sempre foram minhas preferidas. Você gostava quando eu me perdia em construções sem bases exatas, mas com pilares que desesperadamente pediam para serem erguidos e contextualizados. Juntos erguemos castelos onde hoje só vejo poeira de entulhos.

Eu não sei mais ser sua como antes e não consigo te fazer ser meu como queria, mas, jamais seria eu mesma se eu não o tivesse em mim: como refúgio, como ombro, como amigo! Eu só queria que soubesse que te busco de volta todos os dias, ainda que não pareça; e que os últimos parágrafos surgiram sublimes numa explosão de efêmero testemunho, num paradoxo suave entre quem fala e quem lê.