O dia amanheceu em calmaria, hoje. Mal ouvia os transeuntes
passarem pela rua lá em baixo, quando acordei. Devia ser 6 e pouco, como de
costume. Tateei o criadinho ao lado da cama e peguei meu smartphone (não
Iphone) para verificar o que de novo poderia ter acontecido depois das 4 da
manhã, última vez que ele havia feito companhia à minha insônia: celebridades,
dicas de makeup e look para o réveillon; praia, festas e fim 2014. A luz da
tela, tão próxima aos meus olhos, os deixavam semicerrados, e aos poucos ia levando o restinho de vontade de ficar ali manhosa e aconchegada aos travesseiros,
para bem longe.
O telefone tocou logo cedo. Talvez a minha insônia se
preparasse pra isso. No susto, respondi às perguntas da recepcionista da UTI
com um nó na garganta: "Filha; Sim; Já vou buscá-lo; Obrigada!" E
aquela angustia que se arrastara por duas semanas, cedeu lugar a um sorrisinho
maroto de alivio no peito.
Desci as escadas correndo, peguei meu carro, e dirigi até
ao Hospital. Poucos minutos depois, ele já estava comigo, para entrar com o pé
direito 2015.
(...)
Tive que te esperar até agora, 2014. Para te fechar. E
confesso que ainda tenho receio de que você me pregue alguma peça, e eu tenha
que voltar aqui para fazer remendos de última hora...
2014 foi meu ano maluquinho (melhor adjetivo, pois não
quero ser excêntrica em ter que defini-lo como "o" melhor ou "o" pior. Até mesmo
porque seria só uma questão de ponto de vista. Uma vez que, coisas boas e ruins
aconteceram em proporções similares ou por consequências uma das outras). Mas,
mesmo sem pejorá-lo, nunca ansiei tanto por esta magia toda que o ano novo e
seus fogos de artifício trazem.
Diferente do final de 2013, meu 2014 não continuou apenas
colhendo bons frutos. Foram necessárias novas plantações. E junto ao trato das
novas sementes, vieram novos desafios e muitas provações.
Em 2014, eu aprendi a
perdoar. Não, eu não sabia. Passamos por cima de muitas coisas; colocamos panos
quentes; esquecemos até alguém tocar no assunto. Mas perdoar? Perdoar é um
verbo que exige um pouco mais que isso.
Em 2014 eu aprendi a
enxergar o ser humano como um universo particular próprio. Cada um traz em sim
uma construção singular para ser o que é. Fatores biológicos, hormonais,
históricos e culturais. O certo e o errado. Educação. Espaço familiar; vivencia
de mundo. Escolhas. E quem somos nós para julgar?
O que a sociedade exige
de nós? Melhor dizendo: o que o pequeno espaço social ao qual pertencemos exige
de nós? Você já saiu lá fora? Já viu o quanto o mundo é vasto, lindo e cheio de
coisas interessantes? Você já viu que lá fora as pessoas têm opiniões
diferentes das suas? Que acreditam em outras verdades e até brigam por elas?
Para quê julgar antes de ouvi-las? O que faz de você mais certo o menos certo?
Diga! Ouça! Converse.
Sobre conversar, eu
descobri que para este verbo podem haver variações e divergências (hoje eu estou
toda ligada na gramática), e tenho aversão a elas. O que você faz quando está
no Whats App? Você está "whatsapando", teclando, dedilhando, conversando? No ano
das selfies e do Whats App, eu descobri que diálogos sinceros pouco existem. A
tecnologia barateou e facilitou o contato humano, porém o tornou mórbido e
frio. A variação de emoticons e o volume deles tem deixado você cada vez menos
verdadeiro. Pense nisso.
Eu sou da época em que
se falava “de 3 segundos” para não cobrar a chamada, porque a ligação era cara.
E que luxo era ter plano com pacotes de mensagens, ou chip que você escolhia 3
números para falar de graça. Qual foi a última vez que você ligou para alguém?
E sentiu o ofegar da respiração antes da pessoa atender? E pensou em desligar e
mentir que havia ligado errado? Hoje relacionamentos acabam porque alguém
visualizou e não respondeu no mesmo instante. Queria cartas que chegavam em
meses. Queria aquele lance de tempo, de espera e de saudade.
Sobre o amor, eu
descobri em 2014 que ele vai continuar existindo. Ainda que precisem de 8 meses
de terapia para isso. E ele pode vir disfarçado em um garoto loirinho da sua infância
ou em um príncipe encantado que você pode conhecer em uma viagem qualquer, do
outro lado do mundo.
Sobre viagens?! Ah,
viagens! Viaje, viaje e viaje!! Viajar te torna rico, sábio, dono mundo e te
transforma em um eterno contador de histórias. Comece por qualquer lugar
(cachoeiras, lagoas, cidades, castelos, mares), mas, comece. E não pare mais.
Porque para viajar não precisa ter idade especifica, só um coração cigano e
aventureiro que sabe que fomos feitos com pés e não raízes.
O único problema desta
utopia acima descrita é que eu ainda não tenho um cartão de crédito ilimitado e
é exatamente por isso que estou aqui escrevendo para vocês e não estou em Paris
para esperar o ano novo.
Ainda!
Em 2014 eu fui
promovida! 3 anos de Banco, segunda promoção. É assustador e ainda estou
absorvendo a ideia, mas a satisfação profissional se faz imensurável. Quando
comecei, jamais imaginei que estaria aqui, hoje. Gratidão, aprendizado e muita,
muita felicidade, seriam 3 boas palavras que definiriam meu ano profissionalmente.
Já academicamente...
Direito é o curso da
minha vida. E, indiscutivelmente, não é um curso que se faz na barriga. Porém,
que me perdoem os ilustres doutores de notório saber jurídico, em 2014, eu fui medíocre.
Não vou me justificar, nem me martirizar. Para “cada escolha, uma renuncia,
isto é a vida”, disse, certa vez, um poeta, não é?! Em 2015 já estarei mais habituada
ao novo cargo e faço aqui minha única promessa de ano novo: levarei minha vida
com mais equilíbrio.
Em 2014 eu continuei
perdendo heróis. No entanto, a maturidade tem me ensinado a lidar com a morte
com mais fé e menos questionamentos. Não pertence a mim, a vida das pessoas que
amo; cabe a Deus, lhes traçar destinos. O agora não pode ser visto como o estritamente
finito. Há muito mais, além. E eu creio nisto.
2014 foi um ano de
muito amadurecimento.
Se 2013 foi um ano de
realizações, 2014 de provações, acredito que 2015 será um ano de espera: OAB,
TCC, Formatura. Futuro incerto. Escolhas certas. Será necessário, além da
maturidade paulatinamente construída, muito discernimento. Para isso, deixo
neste ano todas as minhas angustias, aflições e ansiedades, para colocar meu
2015 nas mãos de Deus. Nem sempre os planos que fazemos são os melhores nós, e
Deus nos prova isso nas curvas do caminho. Não só com decepções, mas, nos
surpreendendo com o acaso e com novas possibilidades.
Vem logo, 2015!
- Marina