sábado, 25 de fevereiro de 2012

Imaginário

tirado do site: Acasos Afortunados 

"Meu namorado imaginário tem mais ou menos a mesma idade que eu, não fuma, gosta de filosofia (pode não entender nada, mas tem que achar lindo!rs), não tem história mal-resolvida com ninguém, gosta de cinema, domingo em casa, passeio no parque, e é absolutamente encantado pela beleza das coisas pequenas.... um cheiro, um beijo, um carinho, um jasmim. Sem motivos. A gente tem um cachorro (que pode morar na casa dele, já que meu apartamento é MUITO pequeno), planos compartilhados de visitar o Oriente, plantar flores num jardim e passar férias longas em um país estrangeiro. Desses bem esquisito. A gente se entende pelo olho, pele, saliva, coração. Nosso tesão começa é na alma. Só que explode.

Meu namorado imaginário tem o sorriso mais bonito do planeta terra. E quando sorri de cantinho (disfarçando pra eu não ver que ele não gostou do meu sapato cor de melancia), eu finjo que fico brava mas na verdade eu acho lindo. E ele me abraça de um jeito que me faz sentir mais perto de Deus. E a gente se encontra naquele intervalo entre as coisas que são ditas e as coisas que as palavras não alcançam... e se transubstancia... em galáxias, cores, cometas, estrelas, incandescências... tudo ao mesmo tempo.... (imanências).

Meu namorado imaginário, às vezes vai comprar pão quentinho de manhã bem cedo, mas às vezes fica na cama ronronando feito um gatinho, cheio de manha, até tarde enquanto pede mais um dengo emburrado. E a gente se embola num aconchego gostoso de quem esqueceu que segunda é dia de trabalho... e as histórias de domingo estampam sorrisos mudos que nos escorrem pelos olhos. E a gente chora sem lágrimas. E se sente meio como numa história de cinema. Francês.

Meu namorado imaginário apóia meus sonhos, mesmo que não concorde com eles. É um homem que admiro muito mais do que consigo expressar com palavras. Tem manias tão irritantes quanto lindas que nos rendem as mais inusitadas histórias. Como ter medo de escuro ou não lavar a camisa em dia de jogo contra o Palmeiras. Ele me ensina a ser uma pessoa melhor. E me entende quando eu não consigo. Porque ninguém consegue às vezes. Nem ele.

Com meu namorado imaginário cada dia é um mergulho. E eu não preciso ter medo, porque nosso desejo é enternecer nosso universo. De um jeito que a gente não entende, mas que vibra e de repente faz tudo parecer que tem sentido. E a gente entende, como naquele texto da Marla, que encontramos leveza nas emoções que nos transbordaram porque estávamos prontos.... e escrevemos um dicionário de palavras distraídas. Adentramos no corpo de um poema recente, ainda disforme e falamos de amor usando a metáfora mais inocente... E então agradecemos profundamente por esta outra pessoa inteira, que jamais será uma metade e que, para a soma, com todas as alternativas que teve, preferiu seguir ... "ti a mim, me a ti, e tanto"...

Quando? Onde? Quem? Eu não sei. Mas talvez, como numa metáfora de cinema, o mais importante seja mesmo a jornada e não a meta.... Um dia a gente se encontra e ele me reconhece. Tenho fé em Deus."

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O vôo do passarinho

Perto do riacho, no terceiro jatobá depois da mangueira, em um galho nem tão alto, nem tão baixo, nasceu um passarinho. Ele era pequeno, gosmento e necessitava de cuidados como todas as criaturas recém-nascidas. Era o primeiro de uma ninhada que futuramente seriam três. E por isso, a mamãe passarinho lhe dedicava todo carinho e atenção que poderia lhe dedicar.

Os dias passaram e o passarinho começou a crescer;  já dava os seus primeiros passos, se alimentava sozinho e já se arriscava a dar voltas nos galhos que ficavam pertos do ninho. Hora ou outra se desequilibrava nas próprias pernas e voltava correndo para as asas da mãe, que dizia:

- Filho, não tenhas medo. Você foi feito pra voar. Quando sentir que lhe falta o equilíbrio, se jogue no vento, bata as assas e voe.

O pequeno, ainda indefeso, escondeu seu minúsculo rosto nas asas da mãe e se estremeceu de medo.

Os irmãos do passarinho, que vieram depois dele, também começaram a crescer. E também tiveram vontade de se arriscar para fora do ninho. O mais velho já conseguia se aventurar até o quinto galho, e os mais novos sagazes como eram, cada dia, também iam mais longe.

Em um dia ensolarado de verão, o pai passarinho decidiu que seria o grande dia para ensinar seus filhos a voar. A meta proposta era de que eles fossem até o topo do jatobá e de lá soltassem para um vôo libertador até o galho mais próximo da árvore vizinha. Para espanto de todos o mais velho se recusou a ir. Ficou parado, estacionado, como se alguma coisa tivesse prendido suas pequenas patas à madeira firme da árvore.
O do meio, destemido, saltou primeiro e de forma majestosa pousou na árvore seguinte. A mãe passarinho achou que a bela desenvoltura do que fora, deixaria o mais velho encorajado, mas ele de olhos lacrimosos e abaixados disse:

- Não estou pronto.

O mais novo se animou bastante e quase pulou. Mas, ainda indeciso, pediu ao pai que continuassem no outro dia.

No dia seguinte, bem cedo, a mãe tirou os três passarinhos do ninho e os levou para o galho mais alto da árvore. O do meio deu o seu vôo perfeito até a mangueira vizinha e ficou esperando a coragem dos demais. O mais velho estava se sentindo animado e disse que ia logo em seguida, mas foi o mais novo que veio de um impulso assustar e levantou vôo. Bateu, apressado, as asas, com medo de cair, mas pousou eufórico ao lado do irmão do meio. Diante da cena o mais velho se recuou, deu uma boa olhada a sua volta e saiu.

A mãe passarinho sabia, de alguma forma, que havia algo errado com o filho mais velho mas, quando foi ampará-lo ele apenas disse que sonhava em voar, porém ainda não se sentia preparado para isto.

O tempo passou e os irmãos mais novos do passarinho decidiram se aventurar pelo mundo e foram embora. O mais velho, porém ficou esperando a tal coragem brotar em seu peito. Dia ou outro, subia até a copa do jatobá e de lá ficava observando todas as árvores que haviam na mata e passava horas a imaginar o dia que conheceria todas elas. Toda semana recebia notícia dos irmãos; de como eles estavam felizes e te quantas coisas eles haviam conquistado. Sua vontade de bater as assas e voar era cada vez maior, mas mesmo assim não se sentia preparado. Achava que só a vontade não bastava, faltava algo a mais! E temia que a idade, agora, avançada já não lhe permitiria sair.

Frustrado e confuso decidiu subir mais uma vez no jatobá para decidir seu futuro. Resolveu pular. Ali, naquele ato, seria traçado seu destino: ou ele batia asas e ganhava o mundo ou ele se estatelava no chão e punha fim aquela vida medíocre de pássaro covarde. Se afastou da ponta do galho, correu para pegar impulso, mas antes de soltar, desistiu do seu ato de bravura. Teve medo, muito medo de cair.

Deste modo, voltou ao ninho. Pegou suas tralhas e se mudou para o galho de cima. Construiu uma pequena casinha e se acomodou por lá. Estava decidido: esperaria a coragem chegar, não atropelaria o tempo, esperaria a oportunidade certa de sair; mas, enquanto isto, tentaria se tornar o melhor pássaro que aquele jatobá já viu. Seria inteligente e esperto, teria o melhor ninho da região e desenvolveria técnicas para subir em árvores que, não fosse voando. Tudo que queria era não se sentir menor, nem mais fraco, nem humilhado. Queria se sentir igual e tão capaz, quanto os outros eram. E queria continuar torcendo para que algo acontecesse e mudasse tudo, para que suas assas coçassem e batessem, involuntárias, sem ele se dar conta, para que ele pudesse voar e fazer aquilo que ele veio ao mundo para fazer: viver.

- Marina